Ele – o M mais crescido, com quem consta que sou casada – não lê o que partilho convosco por aqui (shame on him por não contribuir para o crescimento do blog!).
Em tempos, referi-vos este facto e mais ou menos deixei prometida uma explicação.
Acho que chegou a hora.
Ele não lê o meu blog.
Deixou de o fazer quando o blog era ainda praticamente um recém-nascido, no dia em que escrevi um texto – este – na sequência de um pequeno diferendo que tivemos.
O texto não era (não é) sobre ele. Não era sobre nós. Não era sequer sobre o tal diferendo.
Sucede que enquanto vivo o meu dia-a-dia penso sobre milhares de coisas e tudo o que penso me sugere temas sobre os quais me dá para escrever (ou não).
Foi o caso naquele dia. Era apenas uma reflexão que teve sim, como ponto embrionário de partida, aquele nosso diferendo. O texto era sobre a ideologia e os princípios que eu senti que, de alguma forma, podiam estar na base daquele nosso diferendo, em si mesmo, insignificante e ultrapassado.
Ele não lê o meu blog.
Creio (especulo) que tem medo de ler com o olhar único de quem vive comigo. De quem consegue perceber ‘de onde vêm’ as minhas palavras. De quem não quer sentir-se criticado.
Já lhe expliquei que tudo isto é, essencialmente, sobre mim, sobre as conversas intermináveis que tenho comigo mesma no carro, a caminho de casa, todos os dias, sobre a necessidade que tenho de falar, ‘sem medo de ser feliz’, sem amarras, sem grandes filtros. Falar para dar vazão a essa avalanche constante de reflexões que me invadem e distraem inoportunamente das minhas tarefas a todo o instante. Falar para esvaziar o compartimento do meu cérebro que precisa de se concentrar no que quer que seja.
Foi, todavia, inútil.
Ele não lê o meu blog.
Mas…
No último post partilhei o estado zombie em que me encontrava.
Recebi um feedback fantástico de mães desesperadas como eu (como isso me reconfortou só eu sei… Obrigada).
Quando cheguei a casa na sexta-feira ele disse-me «os meninos dormem fora hoje e nós vamos jantar».
E fomos. E eu dormi a noite toda sem interrupções. E o pequeno-almoço apareceu na minha cama pouco depois de me queixar que estava a ficar com fome. E os ecrãs foram deixados de lado até ao momento em que já não sabíamos mais o que fazer com o próprio ócio e decidimos ver um filme (seguido, imagine-se!).
Ele não lê o meu blog, é verdade.
Mas talvez não precise.
Ele não lê o meu blog porque lê tudo o que tenho dentro.
Sempre. Sem intermediários.